quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ensinar: Prática interventiva

Tenho muita dificuldade em aceitar quando alguém chega até mim e de forma arrogante ou, até mesmo desdenhando da minha prática - no caso, prática profissional - vem me ensinar como devo exercê-la, desenvolvê-la. E, se é alguém que tem nenhum ou pouco conhecimento sobre a minha profissão, aí é que essa minha incapacidade de creditar a opinião alheia se torna mais forte.
Certo dia, ouvindo uma música de Stênio Március, “Certezas” e, remoendo a letra desta, lembrei-me desse meu defeito. Reportei-me ao episódio da pesca maravilhosa do livro de Lucas, capítulo 5. Via-me em meio à multidão assistindo aquela cena fascinante, intrigante e esplendorosa.
Fascinante, pelo modo como Jesus age; pela sua calma, mansidão e humildade perante um milagre prestes a acontecer, e a forma como Pedro, homem do povo, desprovido de traquejos sociais, rude até, acata a sugestão do mestre que o orienta na maneira de conduzir, de desenvolver a sua prática profissional.
Intrigante, porque sendo Jesus um profissional da carpintaria, acostumado a lidar com o material concreto, com a madeira; que prevê a obra final do seu trabalho chega a se expressar com tanta convicção ao pontuar os procedimentos que um pescador acostumado a lidar com os imprevistos de um mar cheio de surpresas, que não lhe dá nenhuma prévia de como será o resultado de um dia de trabalho, deve tomar para atingir o seu objetivo final: a rede cheia de peixes. E, esplendoroso, pelo simples fato de que um milagre acontece ali, em meio à multidão e à natureza. Ocorrência esta que é inerente a quem compartilha uma caminhada com Cristo e consegue vislumbrar seus milagres no dia-a-dia.
Jesus, ao ver que os pescadores haviam desembarcado e que lavavam as suas redes (Lc. 5:2), percebeu quão tamanha era sua frustração por não terem obtido o resultado desejado de sua pescaria. Então, Ele intervém, talvez provocando em Pedro um pensamento sincrético: Como um carpinteiro pode opinar sobre a profissão de um pescador? Como alguém vem me ensinar o que eu mais sei fazer na vida? Eu já fui ao mar, passei a noite inteira e não peguei nada, como ele me manda ir novamente? Mas, Pedro resolve acatar a ordem do mestre e experienciar um dos momentos ímpares de sua caminhada com Cristo.

“(...) Não sei por que te ouço e lanço as minhas redes onde mandas
Que para estremecer a minha alma voltam cheias, se rasgando
O que fizeste das minhas certezas, do que eu pensava ser?
Percebo agora, que não passo de um pequeno barco à deriva!

Retira-te de mim porque sou pecador!
Mas deixa vir no vento Teu perfume, Tua voz, Teu ser que é Santo.”

Jesus intervém em nossas vidas de muitas formas e em todos os seus setores (profissional, amorosa, financeira, espiritual). Faz isso por amor, por preocupar-se conosco, por sermos importantes para ele. Muitas vezes, as suas intervenções chegam a nós causando-nos estranheza e pensamentos conflituosos como aconteceu com Pedro na pescaria maravilhosa. Cabe a nós acolhermos ou não a intervenção do mestre. O que posso afirmar aqui, é que ao acolher a decisão de Jesus, Pedro pôde experimentar o sabor de ter obedecido à voz daquele que sabe mais e que, por amor, orienta, conduz os passos e se responsabiliza pelo resultado final dessa decisão.

Um comentário:

Amanda Sales disse...

muito muito muito bom! falou comigo :))