domingo, 17 de outubro de 2010

LIDANDO COM O PRESENTE E O FUTURO

Um dos maiores problemas que enfrentamos é o medo do futuro, a dificuldade de lidar com o amanhã. A canção pergunta: “Como será o amanhã? Responda quem puder. O que irá me acontecer?...” E nós também fazemos nossos próprios questionamentos: “Será que vou morrer cedo demais? Será que terei condições de sustentar minha família dignamente pelos próximos, digamos, vinte anos? Será que conseguirei me formar, me casar, etc.? E assim por diante... O fato é que temos medo do desconhecido porque não temos controle sobre ele e isto nos atemoriza.
Lendo a Carta aos Exilados que o profeta Jeremias enviou aos seus compatriotas deportados na Babilônia, fiquei encantado com a forma como ele os encoraja a enfrentar a difícil situação que atravessavam. O texto está registrado na Bíblia Sagrada, no livro de Jeremias, no capítulo 29, nos versículos 1 até o 14a. Quando o profeta escreve a carta, o povo de Israel, ou melhor, parte do que sobrou dele estava já há algum tempo no cativeiro da Babilônia - cerca de quatro anos - e aquelas pessoas tinham sido avisadas anteriormente por Jeremias que ficariam no cativeiro por setenta anos. O povo sobrevivente trazia consigo uma expectativa: Por quanto tempo ficaremos aqui? Será que serão realmente setenta anos? É nesse contexto sombrio, de incerteza, que o profeta traz palavras de encorajamento que podem nos ajudar hoje, mesmo tendo sido ditas há muitos séculos:
“5 Construam casas e morem nelas. Plantem árvores frutíferas e comam as suas frutas. 6 Casem e tenham filhos. E que os filhos casem e também tenham filhos. Vocês devem aumentar em número e não diminuir. 7 Trabalhem para o bem da cidade para onde eu os mandei como prisioneiros. Orem a mim, pedindo em favor dela, pois, se ela estiver bem, vocês também estarão.”
O que acho fantástico nessa citação é que o profeta estimula as pessoas a tomarem pé da situação, a fincar os pés na realidade. Já que estavam lá na Babilônia, tinham mais é que viver as suas vidas, nada de ficarem a choramingar a saudade (legítima, é verdade) de sua terra natal, mas eles estavam vivos e precisavam tocar a existência. “Construam casas e morem nelas!” é um desafio ao recomeço, é um estímulo a refazer a vida. Nos momentos em que os sonhos vêm abaixo, a Bíblia nos sugere a reconstrução da vida.
Para aquelas pessoas desterradas e cativas, Jeremias escreve, ainda: “Plantem árvores frutíferas e comam as suas frutas. Casem e tenham filhos...”. Que coisa interessante! Plantar uma árvore para depois comer os seus frutos é um projeto de médio/longo prazo; casar, ter filhos e ver os netos nascerem também demanda tempo. Num contexto de morte, de desesperança e falta de perspectiva, o profeta traz uma palavra de esperança no futuro e de fé na vida.
É importante observar que a palavra do profeta transcende os limites da individualidade, engloba o coletivo. Se cada um deve reconstruir sua vida, cuidar da própria sobrevivência, esforçar-se particularmente para sobreviver; nem por isso deve esquecer de que vive em comunidade e, por isso, deve colaborar para que toda coletividade experimente a paz e o bem estar. O versículo sete fala sobre isso: “Trabalhem para o bem da cidade para onde eu os mandei como prisioneiros. Orem a mim, pedindo em favor dela, pois, se ela estiver bem, vocês também estarão.”. Trabalhar pelo bem da cidade é se engajar na construção de uma cultura de paz; além do que, expressões como altruísmo, colaboração, solidariedade e bem comum, são palavras de ordem no alimentar da esperança e na realização do futuro.
Finalmente, é necessário lembrar que se no agora temos alguma condição de interferir na realidade que nos cerca por meio do desejo de realizar e vencer as situações difíceis; existe, por outro lado, um futuro que é incerto e sobre o qual não temos controle. E, aí, depois de mostrar o que cada um pode fazer no presente por si e pelos outros, o profeta apresenta alguém que, por mover-se na eternidade, além de saber a dor do presente e também conhece o futuro. E, mais do que conhecer, tem em si o poder de interferir e garantir esse futuro.
“11 Só eu conheço os planos que tenho para vocês: prosperidade e não desgraça e um futuro cheio de esperança. Sou eu, o SENHOR, quem está falando. 12 Então vocês vão me chamar e orar a mim, e eu responderei. 13 Vocês vão me procurar e me achar, pois vão me procurar com todo o coração. 14 Sim! Eu afirmo que vocês me encontrarão.”
Há coisas que podemos fazer, outras estão além de nossas possibilidades. É nessas horas que podemos contar com o poder, a fidelidade e o amor do Deus que tem em Suas mãos o nosso futuro e com base nisso podemos enfrentar o agora com coragem e o porvir com esperança. São belos os verbos usados pelo profeta para o enfrentamento da vida: construir, plantar, trabalhar e orar. É o que podemos fazer no momento. Quanto ao futuro que tanto nos inquieta, bem, o melhor é confiar no que a Bíblia diz: “Só eu conheço os planos que tenho para vocês: prosperidade e não desgraça e um futuro cheio de esperança. Sou eu, o SENHOR, quem está falando.” Resta-nos confiar e esperançar.
“Como será o amanhã?
Responda quem puder.
O que irá me acontecer?
O meu destino será como Deus quiser
(O Amanhã, canção de João Sérgio)
Jason Simões

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